A Cartógrafa e a Casa dos Espelhos Tortos
- Angela Ponsi
- 5 de dez.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de dez.
Havia uma vez uma Cartógrafa de Luz, conhecida por sua habilidade rara: transformar lembranças alheias em mapas belíssimos — mapas que viravam livros, e livros que viravam mundos.

Ela morava na Colina Azul, onde o ar era calmo e o tempo corria sem violência. Lá, o trabalho fluía como um rio; e a Cartógrafa acreditava que, se mapeasse o suficiente, um dia compreenderia até a si mesma.
Foi quando recebeu um convite inesperado da Casa dos Espelhos Tortos, uma mansão antiga que celebraria seus 70 anos. A Guardiã da Casa — a Dama de Ferro Branco — desejava um grande mapa comemorativo.
E prometeu: "Será simples, será belo, será rápido."
A Cartógrafa, generosa, aceitou.
O primeiro passo: a névoa das setenta janelas
Quando chegou, percebeu que a Casa era maior por dentro do que por fora — e as janelas eram incontáveis. Cada janela mostrava um passado diferente: às vezes nítido, às vezes rachado. Às vezes, contradizendo o anterior.
A Dama de Ferro Branco, porém, não via a confusão. Para ela, cada janela era perfeita — e pedia à Cartógrafa que desenhasse todas ao mesmo tempo, sem atraso, sem erro, sem descanso.
"Corra mais", dizia. "Você errou", dizia." Volte tudo para trás", dizia.
E, conforme falava, as janelas mudavam sozinhas de lugar. A Cartógrafa começava a desenhar uma — e ela desaparecia. Capturava outra — e se duplicava. Ajustava a terceira — e surgia mais dez atrás dela.
A sombra de Vidralina
Na Casa vivia também Vidralina, a Organizadora, cujo trabalho era reunir espelhos e entregá-los brilhantes à Cartógrafa.
Mas Vidralina carregava algo estranho: uma lâmina fina, invisível, feita de ansiedade e controle. Sempre que a Cartógrafa ajustava um espelho, Vidralina surgia pedindo outro — ou devolvendo o mesmo com exigências contraditórias.
Às vezes gentil. Às vezes ríspida. Às vezes confusa.
Mas sempre presente.
A cada pedido, as paredes da Casa se encurvavam. Os espelhos se multiplicavam. E a Cartógrafa perdia o fio do labirinto.
A cura vem de outra voz
Havia, porém, uma terceira figura: Elis da Palavra Doce, cronista e guardiã das histórias orais da Casa.
Ela via — silenciosamente — o peso nos ombros da Cartógrafa. Percebia a exaustão ao tentar captar janelas que nunca paravam de se mover.
E dizia, com firmeza suave:
"A Casa é assim com todos. Não é você que erra o mapa. São os espelhos que mudam de lugar."
E era verdade.
A Cartógrafa, pela primeira vez, percebeu que o problema não era sua habilidade, mas a natureza frenética da Casa dos Espelhos Tortos, que jamais deixava ninguém terminar nada.
A decisão que muda destinos
Numa noite de lua opaca, exausta e com o coração pesado, a Cartógrafa despertou de um sonho:
No sonho, ela caminhava pela Casa carregando um mapa já pronto — lindo, perfeito, vibrante — e a Dama de Ferro Branco tentava tirá-lo dela para interferir mais uma vez. Mas o mapa, brilhando em tons de ouro, criava um círculo de proteção.
A Cartógrafa acordou sabendo:
Era hora de encerrar o trabalho e sair da Casa com dignidade —antes que a Casa a engolisse inteira.
E assim fez.
Entregou o mapa final. Agradeceu pelo caminho percorrido. E recolheu suas ferramentas de luz.
Ao virar as costas, a Casa continuou girando em sua confusão permanente. Mas a Cartógrafa seguiu para a Colina Azul — onde o ar é calmo, onde o tempo não morde, onde ninguém tenta redesenhar seu talento.
E, pela primeira vez em muito tempo, ela dormiu.
Angela Ponsi
A Muher que Sonha
✨ Este conto e sua imagem nasceram do encontro entre imaginação humana e ferramentas de IA.
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