O território dos macacos

Os macacos desciam pelas árvores em fila, saltavam pelos telhados e invadiam as casas. Não eram agressivos, mas impunham presença. Eram muitos — e sabiam que aquele território, por direito ancestral, lhes pertencia.

Eu os observava da varanda de uma casa que não era minha, mas onde me encontrava de passagem. Ao meu redor, mulheres tentavam impedir a entrada dos macacos, fechando janelas, travando portas. Havia uma inquietação no ar, mas eu não sentia medo — sentia algo mais antigo, mais íntimo.

A certa altura, um deles me olhou nos olhos. Tinha o rosto quase humano, olhos profundos, e uma sabedoria que me ultrapassava. Ele não pedia licença: apenas entrava. E eu entendi — que era hora de abrir as portas. Não da casa, mas de mim mesma.

O território dos macacos não era lá fora. Era aqui dentro.

Eles vieram me lembrar de uma energia esquecida, selvagem e criativa, que há muito eu tentava domesticar. Vieram saltar pelos meus pensamentos, provocar minhas certezas, mastigar os medos como frutas maduras.

Eu os deixei entrar.

E a casa se encheu de movimento, riso, instinto — e vida.

Angela Ponsi, a Mulher que Sonha

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Há sonhos que chegam como recados cifrados da alma.

Em um deles, fui visitada por macacos — não ferozes, mas determinados, inquietos, vivos. Eles invadiam casas, pulavam muros e me encaravam com uma sabedoria selvagem.

Neste conto simbólico, dou forma a essa aparição onírica e a convido a entrar — como quem abre espaço para a potência criativa que mora na sombra da consciência.

Talvez os macacos sejam, afinal, mensageiros do que em nós ainda é livre.

🌙 Sobre este conto onírico

Este conto nasceu de um sonho real vivido por Angela Ponsi – artista visual, designer, editora e escritora de travessias interiores. Cada narrativa desta série onírica é uma tradução poética do inconsciente, que se manifesta em imagens simbólicas, cenas enigmáticas e emoções profundas. Aqui, o sonho vira metáfora, a metáfora vira palavra, e a palavra se transforma em caminho.

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